Uso de Membranas no Tratamento de Água de Abastecimento Público
Contribuições do texto: Eng. Renato Ramos
A ocorrência de gosto e odor em águas de abastecimento público têm se tornado um dos principais problemas para as concessionárias.
Haja visto recentemente o que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro: tais eventos causam um dano enorme à imagem das companhias de abastecimento, além de causar incômodo e desconfiança da população, levando à necessidade de um maior consumo de água engarrafada.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, toda água de abastecimento público deve ser fornecida sem percepção de gosto e odor. Porém, embora a OMS faça a recomendação, infelizmente não define diretrizes para controle e medição. No Brasil, a Portaria 2.914 do Ministério da Saúde, que é quem regulamentas as condições mínimas de água potável, define em seu Anexo X uma intensidade máxima de percepção de 6 com análise trimestral na saída do tratamento com águas superficiais. Essa percepção é medida por um painel sensorial chamado de “Roda de Gosto e Odor”, conforme a figura abaixo:
O controle e a eliminação de gosto e odor tão pouco é simples. Usualmente esses dois parâmetros são associados à traços de compostos orgânicos (COD – carbono orgânico dissolvido) onde há a presença de metabolitos de alga conhecidos como MIB (2-metil-iso-borneol) e Geosmina, que em concentrações maiores que 9 e 4 ng/L (nanograma/litro) já seriam responsáveis por causar gosto e odor. Por ser uma escala de concentração tão pequena, há uma grande dificuldade na identificação e quantificação antes que tais compostos cheguem a esses valores de concentração mencionados, de forma que se tornem perceptíveis.
O que está sendo feito
O uso de CAP (carvão ativado em pó) ou CAG (carvão ativado granular) tem sido uma forma de remediar o problema em Estações de Tratamento de Água (ETA) convencionais.
No entanto, muitas vezes há a necessidade de uma dosagem alta, o que acaba trazendo outros problemas ao sistema como o aumento expressivo da geração de lodo e consequente saturação dos decantadores.
Uso de Membranas como Complemento
Uma das alternativas que ainda vem sendo estudada e que mereceria mais atenção é o uso de processo combinado entre CAP e membranas de ultrafiltração (UF).
Na década de 90, uma pesquisa feita¹ relatou o uso de ultrafiltração no Rio Sena próximo ao Mont Valérien, onde a qualidade era influenciada por despejos de esgotos municipais. Durante os vários meses de estudo, constatou-se que o uso direto da ultrafiltração não trazia uma remoção significativa para atender à regulamentação Europeia, que solicitava uma intensidade máxima de percepção de 3, tendo atingido uma média de 4. Já quando combinado o uso de 40 ppm de CAP com a UF, o nível de percepção baixou para 2.
Outro estudo² com a mesma finalidade feito na Califórnia também detectou que o uso direto de UF não trazia a remoção esperada, tendo em vista que o peso molecular de MIB e Geosmina é estimado ao redor de 500Da. Nesse caso o nível de percepção era 5. Da mesma forma que o estudo mencionado anteriormente, com o uso de 40 mg/l de CAP à jusante da UF, o nível de percepção baixou a 2. No Rio Medina (EUA), estudos3 com membranas comerciais obtiveram excelentes resultados:
Obviamente a dosagem de CAP é associada às concentrações de COD e sua capacidade de adsorção. Portanto, cada específica unidade de tratamento de água deve conduzir seu próprio teste.
Ainda que mais estudos precisem ser desenvolvidos, os estudos pilotos aqui mencionados concluíram que a integração de CAP+UF em processo combinado conseguiria excelentes remoções de gosto e odor e viabilizaria o uso de membranas de ultrafiltração para o tratamento de águas com finalidade de abastecimento público.
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Referências:
1 A. Bruchet and J.M Laine (2005). Efficiency of membrane processes for taste and odor removal. Water Science & Technology. Vol 51, nº 6–7, pp 257–265. Link.
2 J-M. Laine, K. Glaucina, A. Bruchet, I Baudin and J.G. Jacangelo (2001). Assesment of membrane processes for teste and odour removal. Water Science & Technology. Vol 1, nº 4, pp 19–24. Link.
3 Braghetta et al, 2001 citado em Microfiltration and Ultrafiltration Membranes for Drinking Water. AWWA, M5, Table 2-7. Link.